Ela é um urso panda.
Há dois dias que eu quero contar pro mundo inteiro que eu tô feliz!
Só que eu briguei com o grupo da família no Whatsapp e saí. Um parente de quinto grau publicou vídeo pra gente rir da desgraça alheia, eu me invoquei e fui embora. Marido disse “vai, ué, meu irmão também já saiu”. Meu cunhado brigou com os primos de primeiro grau por causa da Peppa Pig. Todos na casa dos 30 anos.
Tem problema não, na quarta-feira tá todo mundo junto e orando à meia-noite.
E o Facebook? Bem que eu queria, mas eu detesto as vidas editadas para parecerem felizes e glamurosas. É isso que o Facebook faz a gente fazer. Como fiquei muito chegada à galera dos livros, e de vez enquanto escrevo algo político, o Facebook me faz parecer “a intelectual”. A ausência de look do dia e de fotos de festas e posts sobre o amor que tenho por mãe, marido e filha mostram que eu não gosto de publicar o óbvio.
Aí eu lembrei do meu cantinho do WordPress. As pessoas podem ler meu blog, mas o WordPress não funciona como um ecossistema, um ambiente com regras naturais. Aqui eu sou mais livre.
E 2015 foi um ano muito difícil. Foi o ano em que o desinteresse pelo meu trabalho me pegou. Um ano em que eu tive que aprender a viver com metade do meu salário. E um ano que começou sem que eu soubesse o que fazer com os estudos da minha filha.
Ela não estudou para os concursos porque estava em risco de reprovação no ginásio. Focou na escola e passou. Mas não entrou em nenhuma escola pública de ensino médio. Nem na Faetec, Aline? Eu passei o ginásio inteiro dizendo “minha filha não vai pra Faetec”. Aí um dragão (não o da inflação, outro) comeu metade do meu salário e a escola particular deixou de ser viável. Mandei fazer a prova da Faetec e ela ficou 4 posições abaixo da linha de corte. 3 pessoas desistiram. Ela ficou fora.
E a rede estadual regular? A gente não escolhe. A gente indica escolas de preferência. Me disseram que a rede é sádica com a nova classe média que pagou escola a vida toda e agora pede vaga ao governo. A escola à qual minha filha foi destinada é daquelas de reportagem sensacionalista sobre caos na educação, guerra entre polícia e tráfico na porta da escola e delinquência juvenil. Podem me chamar de elitista, mas não é ambiente pra ela. Eu e o pai dela viemos de lugares assim, logo estamos tranquilos pra dizer que queremos algo melhor pra nossa filha.
Eu a levei lá, ensinei o caminho (só dois ônibus servem. Os dois demoram a passar. Quando motorista vê quê é estudante, não pára pra você. Você vai ter que ir até o centro de Bangu e andar. Muito) e fiz a matrícula! Eu e o pai dela saímos de lugares como aquele, logo sabemos que é possível sair.
A minha adolescência foi tão fudida que antes dos 30 eu já tinha resolvido a minha vida. Algo me dizia que estava faltando precariedade na vida do meu filhote. O problema dela é de motivação.
Fiz a matrícula em 2 escolas. Na escola estadual e na escola horrível em que ela fez o ginásio. No primeiro dia de aula, fui chamada porque Filhote estava sem o uniforme e não havia tolerância para alunos antigos. Uniforme desde o primeiro dia. E o uniforme era diferente do usado no ano anterior. Mas isso fora avisado na última reunião de pais pra quem pretendesse manter o filho na escola, então não tinha desculpa. Eu tinha acabado de comprar uma calça jeans nova (que não fazia mais parte do uniforme), paguei rematrícula e mensalidade e não sabia de onde tirar dinheiro para as apostilas. O resto das mensalidades estava tranquilo: eu pretendia não pagar. Fui conversar com a diretora para que ela me liberasse do uniforme. “REGRAS SÃO REGRAS E VALEM PARA TODOS”. Eu concordo totalmente com isso. Mas é um colégio que me mostrou que o trabalho com literatura é uma “perda de tempo”. Um colégio que me mandou proibir minha filha se fazer anotações no caderno com desenhos, colagens, lápis de cor e o escambau porque o caderno dela estava “uma bagunça”. E eu é que tinha incentivado aquilo. Um colégio em que a gente fazia pesquisas que a professora não tinha pedido e não recebia nem um feedback. Nem um “legal, gostei, maneiro”. Não, na semana seguinte era como se nada tivesse acontecido. Um colégio em que minha filha chegava ao quarto bimestre precisando tirar 10 em geometria para passar. Um professor dava conta disso. Uma aula particular resolvia. Eu sei porque eu dei a aula particular ao chegar do trabalho, à luz de lanterna de celular porque não tinha luz em casa, e ela tirou o bendito 10. Não era falta de conhecimento, era falta de motivação. Um colégio em que eu fui conversar com a melhor professora pra saber o que fazer pra motivar minha filha. Ela te adora, ela adora sua aula. E a resposta, com dor refletida nos olhos foi “A Carolina não é um problema. A Carolina sabe ler. Eu passo a aula inteira apontando as respostas no texto para alunos que não sabem ler”. Era a professora de ciências.
E por causa do uniforme eu tive que cancelar a matrícula. Nessa hora a diretora foi legal, apesar de minha filha ter assistido duas aulas a diretora me dispensou da mensalidade daquele mês.
Pausa pra respirar.
Na reunião de família, minha filha fez sua proposta: não me mande pra escola nenhuma. Eu vou passar o ano estudando e vou entrar em uma federal. Marido concordou. Eu discordei. Ela não vai estudar sozinha, não vai manter o foco. Contra-proposta: ela entra num curso preparatório. Eu disse, ok, mas vai pro Estado também. Um ano lá vai te deixar com gana de sair. E ela bateu pé que não iria pra lá DE JEITO NENHUM. Último argumento: se você não passar em nada vai perder um ano e vai pra lá de qualquer jeito, se não for pra uma pior. E ela afirmou: Eu vou passar.
Adivinhem só?
Eu nunca precisei de motivação pra estudar. Eu gosto. Quando fiz a prova do Cefet foi porque mamãe mandou. Não passei, fui pra Faetec. Quando descobri que eu gostava de construção civil e o melhor curso era o do Cefet, aí voltei lá, fiz a prova, passei e (clichê de todo ex-cefetiano) passei os melhores dias da minha juventude lá.
A Celso Suckow da Fonseca não é só uma excelente escola técnica federal. É uma etapa feliz da vida dos seus alunos.
Já deu pra perceber. Ela foi aprovada. Passou pro Cefet.
A bichinha enfrentou uma batalha. Eu passei o ano assistido e me sentindo impotente. Hoje eu ainda estou abismada: não é que deu tudo certo!?!
Para informar a família, eu contei para as avós. Método tradicional e muito mais eficiente que zapzap. Para contar pro mundo inteiro e de quebra, organizar esse tsunami da minha cabeça, está aqui o post. Meu cantinho tão maltratado. Eu só vim aqui esse ano em dias de sofrimento! Pronto, hoje é dia de festa!