Precisa-se de um psicolinguista

Pra me estudar. Eu li a minha “vista pedagogica” no site do INEP e imediatamente começou a tocar na minha cabeça a seguinte musiquinha:

Mãe-iê sabe o que me aconteceu?
Mãe-iê o Tonico me bateu
(Ma ma ma ma ma ma ma mãe-iê sabe o que me aconteceu?
Mãe-iê o Tonico me bateu)

Roubou meu saco de pipoca
Meu pirulito e picolé
E ainda por cima mamãezinha
Deu uma pisada no meu pé

Eu tirei 160 na competência “domínio da norma” (tô até com gastrite). Já reli a redação procurando onde foi a barbeiragem. Tem uma chicane aqui, será que foi esse o meu pecado?

[…] formar profissionais capazes de ensinar as – e nas – duas línguas […]

Nota 120 em “proposta de intervenção”.  Nunca fui nota máxima, mas isso doeu.

Nota 160 na competência 3, selecionar informações de tudo quanto é canto na defesa da argumentação. Eu não tenho um livro de citações filosóficas e alusões históricas para decorar e usar em redações. O assunto era língua, lembrei do poema de Fernando Pessoa (minha pátria é minha língua…)

Competência 6, mecanismos linguísticos, nota 160. Uma corretora certa vez me disse que eu tenho repertório fraco. É mesmo. Não uso “portanto’, “em vista dos fatos supracitados”, “diante do exposto” “consoante” .. acho que “outrossim” devia ter sido aposentada depois da crônica do Veríssimo , tenho vontade de bater em que usa “hodiernamente” “debalde”, “destarte” e “dessarte”.

Competência 2. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.

Sua nota nessa competência foi:200

É, na competência que avalia se eu sei ler e escrever texto argumentativo sobre o que li, tirei nota máxima. Faltou só o 200 naquela outra que avalia se eu sei escrever certinho. Eu escrevo certinho 😦

Nota final: 800

Minha preocupação hodiernamente ( 😀 ) é : como vou ensinar aos meus alunos a escrever um modelo de texto que me dá gastrite?

A lista

De tempos em tempos (ou ultimamente, a cada 5 minutos) surge uma denúncia contra o machismo, a sociedade patriarcal, as mulheres publicam relatos de casos de constrangimentos ou coisas piores.

Algumas vezes eu até tenho uma historinha real pra contar mas não vejo benefício algum em publicar uma coisa que me machucou numa hashtag. Aliás, pra mim, a gente só tem como mudar o futuro educando as crianças. O presente é caso perdido. A gente trabalha para mudar o futuro das nossas netas.

Essa reflexão veio na minha avaliação de Informática. Na hora de inventar uma lista de funcionários para criar a folha de pagamento, eu, preocupada com as terríveis fórmulas do Excel, digo, do Calc, chamei na mente a lista mais fácil, a que não exigisse uma sinapse sequer pra montar. Resposta da mente: F1 2017 drivers entry list. Segunda resposta da mente: o avaliador vai olhar seu nome e vai achar que você pediu ao seu marido, seu colega de trabalho ou pagou a algum cara pra fazer.

Minha filha joga esses jogos online, passa horas matando gente no computador. Perguntei se tem algum problema com outros jogadores meninos. “Não”. Falei que já li sobre isso, que os garotos são hostis quando olham um nick feminino. Ela me disse que ninguém usa nick feminino. E que no headset elá está falando com os amigos e amigas dela, colegas de escola e curso e tals. E vida que segue.

Decidi mesclar nomes de pilotos, escritores e personagens de séries. E vida que segue.

 

Já comecei a dar aulas!

Não pedi isenção de aulas na cadeira de Informática. Porque a prova é “tipo concurso”: escrita e cobrando fórmulas e caminhos de comandos. Se me botar na máquina, eu sei fazer tudo. Se me der uma folha de papel e mandar escrever o que é pra fazer, eu não sei fazer nada. Então estou nas aulas, que são práticas, no laboratório, fazendo as coisas e anotando no bloquinho.

Estou dando aula aos colegas de como fazer as coisas. A cada dúvida que chega no Zap, eu grito minha filha e mando ela fazer no computador. Porque eu não acredito nas coisas que esse povo não sabe fazer, aí ensino eles e perturbo ela.

Intertextualidade

Duas paixões d’além-mar: Pessoa e Deolinda.

Presságio

Fernando Pessoa

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P’ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

 

 

 

Vida de vestibulanda

  • Em Janeiro decidi fazer vestibular – licenciatura em Letras.
  • Em Fevereiro comecei o cursinho (Descomplica).
  • Baixei milhões de apostilas.
  • Aprendi a usar o Galaxy Note comprado em 2012. Baixei um app de pdf decente e um app de anotações decente. O GNote virou uma apostila que dá pra carregar na bolsa e usar no ônibus.
  • Atividades praticamente interrompidas: leitura, ouvir discos novos.
  • Larguei a casa de mão.
  • Surtei umas 3 vezes por causa do caos que a casa virou.
  • Da terceira vez, faltando 2 semanas para o primeiro vestibular, fui parar no hospital.
  • O médico me mandou tomar um diazepan e nos dias seguintes, trocar o diazepan por chá de camomila ou suco de maracujá.
  • Eu quis esganar o médico, mas em vez disso, passei a beber chá de maracujá 2 vezes ao dia e funcionou. Médico ou pajé?
  • Atividades não interrompidas: Assistir Arrow, Flash e Star Trek, menos Enterprise. O ritmo é 2 séries por semana, um episódio de cada.
  • Suspendi um monte de séries. A primeira delas foi 3%, que só de lembrar me dá pânico. A segunda foi Black Mirror, que só de lembrar me dá pânico também
  • Instalei minha escrivaninha na cozinha.
  • Levei 4 meses pra contar para meus pais minha decisão e eles apoiaram.
  • Abandonei o Facebook
  • Abandonei o Mundial de F1. Sentei para assistir o GP do Canadá, que foi no dia seguinte da prova e naquele dia eu estava de folga do estudo, mas a Globo não passou. Nem me ocorreu procurar no Sportv. Passou lá?
  • Estou cuidando bem da alimentação. Não como o que gosto, como o que mantém o corpo em pé e a mente ligada o dia todo.
  • Mudei meu horário de trabalho e estou saindo bem mais tarde.
  • Parei de ir à fisioterapia e estou me sentindo culpada. Na hora em que me sentir imobilizada de dor, eu sei que vou voltar e ouvir esporro da Carla…
  • Eu leio redações exemplares nota 1000 e fico com vontade de chorar porque acho os textos horríveis.
  • Estou blogando ao invés de estudar  (ou trabalhar…) Preciso sair daqui agora!

Falha de comunicação “monstruosa”.

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Emissor e alguns receptores não falavam o mesmo código. Alguns receptores desconheciam o contexto. São fãs da cantora que não gostam do esporte mas sintonizaram no canal que exibiu o show da cantora. Estes receptores emitiram feedback negativo.
 
Os envolvidos na transmissão explicaram o contexto. Vi na página do narrador que ele não sente que deva se desculpar. Os receptores que conhecem código e contexto estão aproveitando para rir dos que se sentiram mal.
 
Não há motivos para atacar o contexto (nem a emissora nem o narrador nem a linguagem que é marca registrada dele). Não há motivos para se envergonhar de ter aparecido na transmissão sem conhecê-lo e de ter entendido errado. Mas o resultado disso tudo é ruim. Primeiro, porque pessoas se sentiram mal e a resposta a este feedback foi mais mensagens para que se sentissem pior, e dessa vez sem enganos. E por fim, fica a idéia de que devemos caminhar mais rapidamente para bolhas de segurança. Assistir transmissão de algo do seu interesse? Não sem ANTES controlar todo o contexto. “Não vamos correr o risco de conviver que nenhuma pessoa que não pense exatamente como nós pensamos.”
 
Ironia da coisa: a cantora chama seus fãs de “monstrinhos” 😀

Meu Filhote

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Ela é um urso panda.

Há dois dias que eu quero contar pro mundo inteiro que eu tô feliz!

Só que eu briguei com o grupo da família no Whatsapp e saí. Um parente de quinto grau publicou vídeo pra gente rir da desgraça alheia, eu me invoquei e fui embora. Marido disse “vai, ué, meu irmão também já saiu”. Meu cunhado brigou com os primos de primeiro grau por causa da Peppa Pig. Todos na casa dos 30 anos.

Tem problema não, na quarta-feira tá todo mundo junto e orando à meia-noite.

E o Facebook? Bem que eu queria, mas eu detesto as vidas editadas para parecerem felizes e glamurosas. É isso que o Facebook faz a gente fazer. Como fiquei muito chegada à galera dos livros, e de vez enquanto escrevo algo político, o Facebook me faz parecer “a intelectual”. A ausência de look do dia e de fotos de festas e posts sobre o amor que tenho por mãe, marido e filha mostram que eu não gosto de publicar o óbvio.

Aí eu lembrei do meu cantinho do WordPress. As pessoas podem ler meu blog, mas o WordPress não funciona como um ecossistema, um ambiente com regras naturais. Aqui eu sou mais livre.

E 2015 foi um ano muito difícil. Foi o ano em que o desinteresse pelo meu trabalho me pegou. Um ano em que eu tive que aprender a viver com metade do meu salário. E um ano que começou sem que eu soubesse o que fazer com os estudos da minha filha.

Ela não estudou para os concursos porque estava em risco de reprovação no ginásio. Focou na escola e passou. Mas não entrou em nenhuma escola pública de ensino médio. Nem na Faetec, Aline? Eu passei o ginásio inteiro dizendo “minha filha não vai pra Faetec”. Aí um dragão (não o da inflação, outro) comeu metade do meu salário e a escola particular deixou de ser viável. Mandei fazer a prova da Faetec e ela ficou 4 posições abaixo da linha de corte. 3 pessoas desistiram. Ela ficou fora.

E a rede estadual regular? A gente não escolhe. A gente indica escolas de preferência. Me disseram que a rede é sádica com a nova classe média que pagou escola a vida toda e agora pede vaga ao governo. A escola à qual minha filha foi destinada é daquelas de reportagem sensacionalista sobre caos na educação, guerra entre polícia e tráfico na porta da escola e delinquência juvenil. Podem me chamar de elitista, mas não é ambiente pra ela. Eu e o pai dela viemos de lugares assim, logo estamos tranquilos pra dizer que queremos algo melhor pra nossa filha.

Eu a levei lá, ensinei o caminho (só dois ônibus servem. Os dois demoram a passar. Quando motorista vê quê é estudante, não pára pra você. Você vai ter que ir até o centro de Bangu e andar. Muito) e fiz a matrícula! Eu e o pai dela saímos de lugares como aquele, logo sabemos que é possível sair.

A minha adolescência foi tão fudida que antes dos 30 eu já tinha resolvido a minha vida. Algo me dizia que estava faltando precariedade na vida do meu filhote. O problema dela é de motivação.

Fiz a matrícula em 2 escolas. Na escola estadual e na escola horrível em que ela fez o ginásio. No primeiro dia de aula, fui chamada porque Filhote estava sem o uniforme e não havia tolerância para alunos antigos. Uniforme desde o primeiro dia. E o uniforme era diferente do usado no ano anterior. Mas isso fora avisado na última reunião de pais pra quem pretendesse manter o filho na escola, então não tinha desculpa. Eu tinha acabado de comprar uma calça jeans nova (que não fazia mais parte do uniforme), paguei rematrícula e mensalidade e não sabia de onde tirar dinheiro para as apostilas. O resto das mensalidades estava tranquilo: eu pretendia não pagar. Fui conversar com a diretora para que ela me liberasse do uniforme. “REGRAS SÃO REGRAS E VALEM PARA TODOS”. Eu concordo totalmente com isso. Mas é um colégio que me mostrou que o trabalho com literatura é uma “perda de tempo”. Um colégio que me mandou proibir minha filha se fazer anotações no caderno com desenhos, colagens, lápis de cor e o escambau porque o caderno dela estava “uma bagunça”. E eu é que tinha incentivado aquilo. Um colégio em que a gente fazia pesquisas que a professora não tinha pedido e não recebia nem um feedback. Nem um “legal, gostei, maneiro”. Não, na semana seguinte era como se nada tivesse acontecido. Um colégio em que minha filha chegava ao quarto bimestre precisando tirar 10 em geometria para passar. Um professor dava conta disso. Uma aula particular resolvia. Eu sei porque eu dei a aula particular ao chegar do trabalho, à luz de lanterna de celular porque não tinha luz em casa, e ela tirou o bendito 10. Não era falta de conhecimento, era falta de motivação. Um colégio em que eu fui conversar com a melhor professora pra saber o que fazer pra motivar minha filha. Ela te adora, ela adora sua aula. E a resposta, com dor refletida nos olhos foi “A Carolina não é um problema. A Carolina sabe ler. Eu passo a aula inteira apontando as respostas no texto para alunos que não sabem ler”. Era a professora de ciências.

E por causa do uniforme eu tive que cancelar a matrícula. Nessa hora a diretora foi legal, apesar de minha filha ter assistido duas aulas a diretora me dispensou da mensalidade daquele mês.

Pausa pra respirar.

Na reunião de família, minha filha fez sua proposta: não me mande pra escola nenhuma. Eu vou passar o ano estudando e vou entrar em uma federal. Marido concordou. Eu discordei. Ela não vai estudar sozinha, não vai manter o foco. Contra-proposta: ela entra num curso preparatório. Eu disse, ok, mas vai pro Estado também. Um ano lá vai te deixar com gana de sair. E ela bateu pé que não iria pra lá DE JEITO NENHUM. Último argumento: se você não passar em nada vai perder um ano e vai pra lá de qualquer jeito, se não for pra uma pior. E ela afirmou: Eu vou passar.

Adivinhem só?

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Eu nunca precisei de motivação pra estudar. Eu gosto. Quando fiz a prova do Cefet foi porque mamãe mandou. Não passei, fui pra Faetec. Quando descobri que eu gostava de construção civil e o melhor curso era o do Cefet, aí voltei lá, fiz a prova, passei e (clichê de todo ex-cefetiano) passei os melhores dias da minha juventude lá.

A Celso Suckow da Fonseca não é só uma excelente escola técnica federal. É uma etapa feliz da vida dos seus alunos.

Já deu pra perceber. Ela foi aprovada. Passou pro Cefet.

A bichinha enfrentou uma batalha. Eu passei o ano assistido e me sentindo impotente. Hoje eu ainda estou abismada: não é que deu tudo certo!?!

Para informar a família, eu contei para as avós. Método tradicional e muito mais eficiente que zapzap. Para contar pro mundo inteiro e de quebra, organizar esse tsunami da minha cabeça, está aqui o post. Meu cantinho tão maltratado. Eu só vim aqui esse ano em dias de sofrimento! Pronto, hoje é dia de festa!