O Bendito acordo do Ecad para Podcasts

Em 14/05/08 a Associação Brasileira de Podcasts (ABPOD) e o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de direitos autorais sobre músicas, o ECAD, assinaram um acordo que regulamenta o uso de músicas com copyrights em podcasts. O podcasteiro interessado deve se associar à ABPOD, entrar em contato com o ECAD, enviar seu feed para apreciação e aguardar a classificação do show, com o valor a ser pago. Podcast pessoais pagam R$37,90 por mês.

É isso mesmo, tem que pagar para usar música no podcast, é claro, a novidade é que o ECAD finalmente se decidiu sobre o valor a cobrar. O podcast não pode ter lucro e tem que pagar pros homem lá pra ser publicado sem problemas de violação de direitos autorais.

O ECAD não fez qualquer comentário sobre o que pretende fazer com os milhares de podcasts que não se filiem e não peçam o boleto.

A maioria dos podcasts que assino não conhece ou não quer conhecer a ABPOD nem o grupo no Google e aposto que depois dessa notícia eles não vão mudar de postura. Os poucos podcasteiros com os quais falei sobre a ABPOD me deram um corte tão brusco que eu entendi o recado. A propósito, aproveito pra me desculpar se você sem querer leu o parágrafo do acordo com o ECAD e quer me matar porque eu escrevi isso, foi mal, e faz de conta que eu não te contei nada.

Mas não tem que pagar? Tem. Tem que pagar Ecad pra tocar música no podcast, pra tocar musica no churrasco com a galera, na festinha de são João do colégio das crianças (será que o preço das mesas inclui a taxa do Ecad?), pra deixar o rádio ligado no escritório durante o horário de atendimento a público.

Pedir ou não o boleto é uma decisão difícil para mim. Se é de direito, eu tenho que pagar. Se eu acho um absurdo dar dinheiro pra esses caras fazerem sei lá o quê, eu não posso. Eles não significam nada pra mim. Reconheço sim a importância da ABPOD, se não fosse isso eu já teria soltado um sonoro f***-se. Eu consigo enxergar o dano causado pela compra de um cd pirata, por exemplo. Eu não posso dar meu dinheiro pro cara em troca de um trabalho que não é dele. E eu não estou vendo justificativa para dar meu dinheiro ao Ecad. Não recebo nada dos meus ouvintes, não tenho patrocinador e ainda faço divulgação gratuita para o artista. Eu só tenho duas saídas: toco o que quero e não pago ou não toco nada.

Para aqueles que querem tocar qualquer coisa e querem pagar pra não se aborrecer, a ABPOD prestou um bom serviço. O Ecad apresentava preços absurdos a quem pedia pra regularizar sua situação. A ABPOD conseguiu uma boa redução, graças ao Maestro Billy e ao grupo de podcasteiros que aceitou pedir o boleto.

Eu estou num dilema. A alinezinha vestida de anjo sussurra na orelha esquerda: “se é de direito, tem que pagar. Arranja um patrocino. Ou tire o pod do ar…” A alinezinha ruiva sexy de vestido preto colado e com um sutiã dois números maior que o meu sussurra (com aquela voz do podcast que repete Heeeiki Kovalainen e Sebastial Vettel): “não faz o menor sentido dar 40 reais, que você não tem sobrando, pra bancar seu hobby e dar dinheiro pra esses caras. Quem são esses caras? Como esse dinheiro vai parar no bolso do Alex Syntek (ela fala e toca Alex Syntek no Background, vê se pode.)? Se a ABPOD cobrasse mensalidade e oferecesse benefícios…

Nisso a alinezinha vestida de anjo a interrompe.

– Sabe que você me deu uma idéia… Uma não, várias. A começar pela nuance da tintura… O problema é pagar Ecad?

– É, parece até filme sobre a Idade Média, quando os camponeses miseráveis faziam fila pra pagar taxas pelo oxigênio do reino que eles respiravam.

– Só você pra fazer essas comparações, que coisa bizarra. Você viu o blog da Fiz.Tv?

– Vi pelo link do Pezzolo. Aliás, termina logo com essa pod-polêmica que eu tenho que meter o pé na área de comentários do Pezzolo dizendo que eu fazia podcast de F1 mil anos antes da minhoca começar.

– Ó a baixaria. Já disseram isso lá, apenas sorria e acene. Você viu que a Fiz.Tv assinou acordo com o Ecad e os camponeses videomakers podem colocar músicas comerciais na trilha sonora do filme sem preocupações com copyright?

– E de graça. Você está com idéias de pagar menos.

– Pagar menos, pagar a mesma coisa, ou não pagar. Se houvesse uma Fiz.Rádio, se ela oferecesse hospedagem, estatísticas, email, voice coments, embed player, galeria de fotos, uma banda ajustada para um podcast que se diz pessoal, amador, sem público e sem chances de lucro…

– Owowow, não humilha.

– Querida, se mais de 3 pessoas se interessam pelo seu show você deve passar o boleto do Ecad pra elas, é justo.

– Se houvesse uma Fiz.Rádio… A Fiz.Tv recebe conteúdo para o canal de TV Paga. Centenas de produtores voluntários que fornecem horas e horas de vídeo de graça.

– Pelo que vi, não é de graça. Mas é verdade, eles convocaram os camponeses, disseram “trabalhem para mim”, e o povo trabalha. E nós três, eu, você e a louca que escreve esse diálogo surreal, não trabalhamos de graça para o querido ouvinte?

– Para ele, para a Globo, para a FIA, para a Williams, para toda a indústria de Cucaracha Music…

– Uma Fiz.Rádio poderia agregar os podcast nacionais, dar visibilidade a eles, poderia virar uma social notworking, coisa que brasileiro adoooooora. Talvez ela pudesse selecionar parte da programação para levar pra seu avô, o rádio, talvez não, mas um site desses, bombando, poderia conseguir patrocínio, poderia encher nossas páginas de banners, poderia até colocar vinhetinha no nosso áudio. E poderia cobrar mensalidade e repassar para aqueles caras lá que a gente tem bronca.

– A FIA? A BMW? A Ferrari? A RedBull? Button & Webber?

– O Ecad! Então, nesses termos, é menos doloroso abrir a carteira?

– Adeus escova de queratina.

– Ah, o podcast é mais importante que a escova de queratina.

– E quem levaria adiante um projeto desses? O podcast veio primeiro, mas os vídeos são a paixão da galera, o dia que tiraram o youtube do ar a bolsa de São Paulo quase quebrou, fecharam o espaço aéreo sobre o país, as forças armadas…

– Comparações bizarras de novo.

– Então, se até hoje o áudio podcast não bombou, porque você acha que isso poderia dar certo?

– Sites de hospedagem a gente tem. Acordo com o Ecad a gente tem. Gente pagando e querendo pagar, a gente tem. E eu garanto que ninguém é mais apaixonado do que nós, herdeiros da rádio, amantes da voz e da música, perpetuadores da tradição oral!

– Aff. Sonhar não custa nada.

– Mas esse sutiã com enchimento deve ter custado uns… R$37,90?

– Quando é que você vai perder essa mania de dar suas idéias geniais? Se cobrasse por elas poderia sustentar seus 2 podcasts.

– Caramba, não é que eu tinha me esquecido, são 2!!! Já pensou, pagar mais 38 reais só pra tocar É o Tchan pro Webber?!?!

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Enquanto elas discutem altos planos, eu continuo sem saber o que fazer.

10 comentários sobre “O Bendito acordo do Ecad para Podcasts

  1. Realmente fiquei assustado agora ou sem saber o que fazer pelo que você comentou. Quando você foi tratada bruscamente na lista de podcast. Talvez eu não tenha percebido ou não lido. Espero que não seja eu pois a considero e muito.

    Com respeito ao Ecad esta era uma preocupação que todos os podcasters sempre tiveram. Muitos tinham e tem ainda de tocar musica comercial pelo fato de saber que “legalmente” não é permitido. Concordo que a maioria não ganham $$ com podcast entao não tem como ou seria um absurdo pagar.

    Mas concordo também que um dia ou outro iriamos correr o risco do Ecad cair em cima de “nosotro” e correríamos até o risco de ter que pagar retroativo. Com este acordo através da ABPOD passamos por assim dizer a “régua” no passado. Quem tocou e se associou, não precisa ficar preocupado. Agora está protegido. Quem tocou e não se interessou< aí já não sei o que acontecerá ou quais os passos que eles tomarão.

    Eu não precisava pagar o Ecad por 2 motivos. Primeiro não moro no Brasil e legalmente teria que estar condicionado as leis americanas. segundo que posso tocar Podsafe e virar as costas para o Ecad ou para os artistas brasileiros que não tão nem aí para o podcast.

    Resolvi pagar para dar apoio a ABPOD, não quer dizer que quem não pagar não está dando apoio. Só quero dizer que por fazer parte dela, tenho a obrigação moral de participar.

    O que o Ecad vai fazer com o $$ não me interessa. Da mesma forma quando pago os impostos aqui. Se o EUA vai usar em armas ou na guerra ou sei lá aonde. Não quero saber. Só estou fazendo a minha parte que é pagar.

    mais uma vez, sinto muito mesmo se você foi ofendida por mim ou por alguém na lista. Você me conhece e sabe muito bem como eu costumo tratar as pessoas.

    Não precisa ficar pressionada a pagar ou não o Ecad. Vai levando a sua vida como antes e VQV my babie 🙂

    Abraços

    Eddie Silva

  2. Acho que podcast sem fins lucrativos não devia pagar… faz divulgação de graça de artista, dá um trabalho e já não recebe um centavo em troca!
    Mas, fazer o quê, né? Os engravatados precisam da grana pra manutenção da piscina….

  3. Não, Seu Silva, quem não quis saber de papo comigo foi justamente quem não está na lista e na ABPOD e prefere continuar alheio.

    Fabiano, quer ser meu patrocinador?

  4. Oi Aline, obrigado pela visita e coment no ER. Discordo plenamente dessa cobrança. Tenho um amigo de classe que é cantor profissional e disse que esse lance de ECAd é besteira e que é so fogo de palha. Esses acordos saõ feitos por quem tem interesse e ganha com seus podcasts, o que nao é meu caso e nem quero que seja. Sôa meio poetico , mas eu nao quero ganhar nada com ele pois faço por amor aos anos 80. Nao ganho e portanto, nao pago!! Ou isso ou encerro definitivamente o ER.

  5. Bela bagunça as que as Alinesinhas estão fazendo com sua cabeça sobre este assunto. Mas acredite, eu também fiquei na duvida.

    Todos os podcasters e podcasts que conheci e assino regularmente tem um sério compromisso com a lei. Pleo menos todos evitam assumir posições comprometedoras, que influencie a pirataria ou qualquer outro problema moral. Entretanto, este acordo pressiona alguns contra a parede e sem nenhuma necessidade.

    Impõe uma regra que ao meu ver restringe a produção e atrapalha o artista, cuja obra pode ser não veiculada caso os direitos não sejam pagos. Outra coisa, o valor pago segue para o artista detentor da musica ou é mesmo apenas para manter a formalidade junto a uma associação que até então nadava a menor bola?

    Como não sou um podcaster (ainda), a resposta por enquanto é facil, mas a possiblidade de perder o acesso a podcasts de alta qualidade (como pode ser o caso do ER), por causa do acordo do ECAD me incomoda. Torço pela melhor decisão, mas meu apoio seguirá sempre aos podcasts.

    Se o ECAD ousar chamar de criminoso quem não aceitar seguir este acordo, para mim, esta associação deixará de ter valor.

    Até.

  6. No fim das contas, se alguém bater à minha porta com um papelzinho oficial e me mandar tirar o podcast do ar, eu tiro.

    Já viu aquele comercial de detetizante em que a mãe vem com uma vassoura, dá na cabeça da barata e quando tira a vassoura ao invés de uma são 3, ela dá de novo e agora são 8… Eu vou gostar de ver o que acontecerá se derem com a vassoura na cabeça dos podcasts. Desculpem os colegas podcasteiros pela comparação com a barata, foi mal, mas não levem muito a sério um comercial que mostra uma mulher calmamente pegando a vassoura pra dar na cabeça da barata, isso não existe.

  7. A comparação é bizzarra e justamente por isto, perfeita.

    Como não vejo muita movimentação sobre esta questão, acredito que a analise final será a de ignorancia a nova norma. Não acredito em caça as bruxas, dá muito trabalho montar uma…

    Até.

  8. Estive procurando informações sobre direitos autorais para lidar com essas questões no iphone hoje, e me deparei com essa bela reflexão. Estou contigo. Não pago, e se vierem me amolar, tiro o cast do ar.
    Um dia o bom senso vai prevalecer sobre a pequenez de visão desses tacanhos, que o tempo há de condenar como as lacraias venenosas, os vampiros dessa época. Meus netos hão de rir quando eu lhes contar que, no tempo do vovô, havia gente que vivia de criar, outros de comunicar, e alguns vampiros, de cobrar trocados oportunistas aqui e ali.

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